Por: Isadora Duarte
São Paulo, 28/08/2019 - Importadores de couro brasileiro estão solicitando esclarecimentos adicionais sobre a origem e rastreabilidade do produto, segundo o presidente executivo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), José Fernando Bello. "Os importadores estão preocupados com a ligação das queimadas na Amazônia com a pecuária brasileira. É natural que, com essa crise, ocorram questionamentos extras, afinal, eles também precisam garantir a origem da matéria-prima no produto final", afirmou Bello, em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro.
Os questionamentos ocorrem em meio à repercussão internacional das queimadas na Amazônia e da possível associação dos incêndios com a atividade pecuária na região. O CICB explica que parte da matéria-prima beneficiada pelos curtumes é originada na região da floresta Amazônica.
O presidente do CICB negou intenção dos importadores de realizar boicote ou restrição de compras ao produto brasileiro. "Não houve suspensão de compras ou cancelamentos de pedidos. No momento, o fornecimento de couro ao exterior está normalizado. O que as marcas nos disseram é que para continuar os negócios, gostariam de mais informações", afirmou.
Segundo Bello, todo couro originado no Brasil passa por processo de rastreabilidade e controle, auditado por órgão internacional. "Diante desses questionamento, concedemos ainda garantias adicionais aos compradores quanto ao controle e rastreabilidade do couro brasileiro", relatou. Entre as marcas que já solicitaram esclarecimentos adicionais estão Timberland, Dickies, Kipling, Vans, Kodiak, Terra, Walls, Workrite, Eagle Creek, Eastpack, JanSport, The North Face, Napapijri, Bulwark, Altra, Icebreaker, Smartwoll e Horace Small, de acordo com a entidade.
Bello salientou, ainda, que o CICB está notificando o governo federal acerca desses pedidos de esclarecimentos. "Enviaremos carta ao Ministro do Meio Ambiente relatando o episódio. Eles precisam estar cientes de que toda essa problemática da Amazônia reflete sobre uma cadeia produtiva. O governo precisa entender que é preciso cuidado no trato dessas questões para não prejudicar o agronegócio brasileiro", argumentou o presidente do CICB. O executivo ressaltou que a cadeia pecuária está disposta a reconstruir a imagem do setor no exterior, que está "muito abalada". O Brasil exporta cerca de 80% da sua produção de couros, com faturamento de US$ 2 bilhões por ano em vendas externas, conforme dados dos CICB.
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