Por Tânia Rabello
São Paulo, 23/08/2019 - A grande preocupação do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Normando Corral, em relação à repercussão global sobre as queimadas na Amazônia é em relação à "ignorância" em torno do assunto. Ele é enfático ao afirmar que a floresta amazônica "não está sendo queimada". "O que tem ardido em chamas, na verdade, é massa seca de pastagens e cerrado e também beiras de estradas, que acumulam muito mato seco nesta época do ano", diz o dirigente. "Os incêndios têm começado principalmente nas divisas entre cercas de propriedades rurais e estradas, que é onde fica esse mato ressecado, porque estamos em plena época de seca", explica. Conforme Corral, o Centro-Oeste está no auge do período seco do ano, que se iniciou em julho e vai até setembro.
Ele afirma, ainda, que "nem pecuaristas, nem agricultores" estão colocando fogo na Amazônia. "Sou produtor rural e engenheiro agrônomo e, assim como eu, os produtores têm em suas propriedades equipamentos de combate a incêndio, caminhão-pipa e, além disso, temos e damos, pela Famato, treinamento do Senar de prevenção e combate a incêndios", diz. "Nós gastamos dinheiro para combater incêndios. Não ateamos fogo."
Para o dirigente, há uma "paranoia mundial" em torno das queimadas da Amazônia por causa de "interesses comerciais". "Por trás dessa situação o que eles querem é pressionar mercado e comprar mais barato", diz. "Não tenho dúvidas disso."
Indagado sobre o risco de boicote aos produtos agropecuários brasileiros por causa da repercussão negativa, principalmente na Europa, Corral acha que, "por enquanto" há mais barulho do que ameaças concretas. "Somos exportadores importantes, mas não tenho certeza, ainda, se seremos prejudicados. Não tenho certeza do que vai acontecer."
Corral avalia também que o setor agropecuário do Brasil tem se esforçado em melhorar sua comunicação e mostrar que produz com sustentabilidade. "Agora, diante dessa situação, temos de intensificar esse trabalho."
Em relação às declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, que poderiam azedar mais ainda a imagem do País lá fora em relação à preservação ambiental, Corral é da opinião de que Bolsonaro sempre foi assim e foi eleito assim, "com o comportamento histriônico". "É natural dele, chegou à Presidência desse jeito", contemporiza, e complementa que os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Agricultura, Tereza Cristina, têm dado respostas competentes em relação ao tema.
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