Por Caio Sartori, Daniela Amorim e Igor Ferraz
Rio, 03/06/2021 - Uma criança com cerca de dois anos e o pai dela, de 30 anos, morreram no desabamento de um prédio residencial de quatro andares em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro. A construção era irregular e desmoronou na madrugada desta quinta-feira, 3, deixando outras quatro pessoas feridas. O corpo do homem foi o último a ser resgatado dos escombros, no início da tarde.
Três dos feridos no desabamento foram socorridos ainda de madrugada e levados para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Uma mulher, de 38 anos, e um homem, de 29 anos, já tiveram alta médica. Uma mulher, de 28 anos, permanece sob cuidados médicos na unidade, com quadro de saúde estável, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. A última resgatada, Kiara Abreu, de 27 anos, retirada dos escombros pela manhã, foi levada para o Hospital Municipal Miguel Couto, onde passou por avaliação e exames.
“A gente tem que melhorar a questão da fiscalização”, disse o governador Cláudio Castro sobre a situação irregular do prédio.
Além do governador do Rio, o prefeito Eduardo Paes também acompanhou o trabalho de equipes de resgate. Prédios vizinhos também foram afetados pelo desabamento.
“Provavelmente vão ser condenados, vamos ter laudo mais técnico da Defesa Civil Municipal”, disse o prefeito do Rio, Eduardo Paes.
No entorno da construção que desabou, moradores comentaram que a comunidade é repleta de prédios em situação parecida. Empregada doméstica, Maria Elizabete, de 41 anos, diz que se sente "um lixo" por viver nessa situação. Ela está em Rio das Pedras há 20 anos.
"Vamos para onde, se o que dá pra pagar é aqui?", questiona. "O prédio onde moro é todo rachado. Quando chove, tem água pingando toda hora."
Ao sair da área de isolamento dos Bombeiros, o prefeito Eduardo Paes (PSD) reconheceu a situação complexa da região, que há décadas vem passando por construções desse tipo. O foco agora, segundo ele, é fiscalizar os prédios já existentes e evitar que novos sejam erguidos.
"Comigo, milícia não vai mais construir porcaria nenhuma nessa cidade", disse.
O prefeito disse que vai combater a construção de novos edifícios irregulares e que a Prefeitura já tem atuado em demolições, mas que esse tipo de moradia “é uma realidade da cidade”.
“Ninguém vai construir mais nada nessa cidade de maneira irregular. Só essa semana foram três operações”, afirmou Paes a jornalistas.
A delegacia da Taquara instaurou um inquérito para apurar o caso. Os agentes farão a perícia nos escombros para identificar a causa do desabamento.
Moradores relatam ter ouvido "estalos" por volta das 2h e, mais tarde, "muito fogo". O desabamento ocorreu por volta das 3h. Os bombeiros do quartel de Jacarepaguá foram acionados às 3h22 para a ocorrência na esquina da Rua das Uvas com a Avenida Areinha.
Outros quatro quartéis
Alto da Boa Vista, Barra, Magé e São Cristóvão - deram apoio à operação de resgate. Em meio ao desabamento, um incêndio também precisou ser contido no local.
Além dos bombeiros, também atuaram no local do desabamento equipes da Secretaria de Assistência Social, Defesa Civil, Guarda Municipal, Polícia Militar, Light, CET-Rio, Naturgy, Comlurb, Secretaria Municipal de Conservação, Secretaria de Ordem Pública, Secretaria de Infraestrutura e Secretaria Municipal de Assistência Social.
Técnicos da Defesa Civil Municipal avaliam os danos que foram causados em outras quatro edificações, uma à direita e três à frente do prédio que desabou, para verificar se há necessidade de outras interdições. A Secretaria Municipal de Assistência Social montou um ponto de acolhimento para atendimento das famílias atingidas.
A região de Rio das Pedras é conhecida como um dos lugares com maior atuação das milícias cariocas. Os prédios daquela área costumam ser construídos de maneira irregular, como foi o caso dos edifícios que desabaram e deixaram 24 mortos na Muzema, comunidade vizinha, em 2019.