Por Anne Warth e Daniel Galvão
Brasília 23/03/2021 - Criticado pelo lento ritmo de vacinação e no pior momento da pandemia do novo coronavírus tanto em contaminações quanto em mortes, o presidente Jair Bolsonaro fez há pouco um pronunciamento para “tranquilizar” o povo brasileiro. Em um discurso de quatro minutos, Bolsonaro disse que o País terá 500 milhões de doses de vacinas e que será autossuficiente na produção de insumos - hoje importados - até o fim do ano.
“Quero tranquilizar o povo brasileiro e afirmar que as vacinas estão garantidas. Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população. Muito em breve, retomaremos nossa vida normal”, disse.
Pressionado por empresários e economistas que cobraram do governo ações concretas e agilidade na compra de imunizantes em uma carta pública, Bolsonaro disse que pretende “fazer de 2021 o ano da vacinação dos brasileiros”. Dessa vez, não falou contra medidas de isolamento e nem criticou governadores que adotaram o toque de recolher.
O pronunciamento é mais um ajuste no discurso de Bolsonaro, que vive o pior momento de sua popularidade. Em nenhum momento ele mencionou o fato de que os laboratórios que produzem vacinas contra a covid-19 manifestaram hoje, ao Senado, entraves para o cronograma de entregas no ritmo anunciado pelo Ministério da Saúde.
Sem fazer referências aos diversos momentos em que diminuiu a importância da imunização em detrimento de medicamentos sem eficácia comprovada, Bolsonaro voltou a dizer que sempre disse que compraria qualquer vacina que recebesse aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Sempre afirmei que adotaríamos qualquer vacina, desde que aprovada pela Anvisa. E assim foi feito”, disse.
Dessa vez, Bolsonaro evitou críticas sobre a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o Sinovac. No ano passado, ele chegou a comemorar a suspensão dos testes da vacina, retomados depois de um suicídio, e aproveitou para criticar o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu adversário político.
No pronunciamento em rede de rádio e TV, Bolsonaro culpou a nova variante da covid-19 pelo pico de contaminações e mortes. “Estamos no momento de uma nova variante do coronavírus, que infelizmente tem tirado a vida de muitos brasileiros”, disse.
No pronunciamento, porém, ele manteve o discurso em favor da retomada da economia. “Desde o começo, eu disse que tínhamos dois grandes desafios: o vírus e o desemprego. E, em nenhum momento, o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus como para combater o caos na economia, que poderia gerar desemprego e fome
O Brasil registrou 3.158 novas mortes pela covid-19 nesta terça-feira, 23. A média semanal de vítimas, que elimina distorções entre dias úteis e fim de semana, bateu recorde pelo 25º dia consecutivo e ficou em 2.349. Pela primeira vez o País superou a marca de 3 mil mortes por coronavírus registradas em um único dia.
O tom menos beligerante pode ser uma prévia do encontro de amanhã (24), quando reunirá a cúpula dos Poderes Legislativo e Judiciário, além dos governadores Bolsonaro se reunirá às 8h, com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) e do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, além do procurador-geral da República, Augusto Aras, para discutir ações de enfrentamento à covid-19. Governadores e o recém-empossado ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também participarão da reunião.