Florianopolis, SC--(
DINO - 19 set, 2019) -
De acordo com
recente decisão da Organização Mundial da Saúde, a síndrome de burnout passa a ser classificada como um “fenômeno ocupacional”, com código de classificação internacional de doenças. Este cenário se manifesta em três dimensões: sentimentos de exaustão; distanciamento mental, sentimentos de negativismo relacionados ao trabalho; e eficácia reduzida.
Segundo
dados da Forbes, entre 1973 e 2015, o americano médio teve aumento da carga de trabalho equivalente a mais de três semanas extras por ano, levando a um esgotamento entre funcionários de todos níveis em empresas no mundo todo. Este cenário gera aumento do investimento das empresas em programas de bem-estar e de liderança, pois os líderes são os maiores responsáveis por perpetuar más práticas ou gerar mudanças positivas. Está comprovado que boas práticas transmitidas pelos líderes podem contribuir para melhor engajamento, maior satisfação e, por consequência, maior chance de permanência. As organizações mais avançadas na valorização do colaborador estão cada vez mais buscando equilíbrio entre trabalho e momentos de aprendizagem, levando a maior qualidade do trabalho em menor tempo.
A importância do engajamento também foi citada em consulta,
feita pela EXAME, com especialistas em liderança. A pesquisa apontou entre algumas das tendências mais relevantes a necessidade de menos controle. Outra característica muito valorizada é saber dar e receber
feedback.
Independente de atuar na economia privada ou no setor público existe demanda crescente por formar líderes com este perfil. Mas, afinal de contas, como definir liderança? Segundo
proposta da Consultoria McKinsey, uma definição incompleta produzirá programas de liderança fragmentados. Embora as organizações recebam muitos conselhos, elas não estão achando formas de superar o atual cenário. O conceito é definir
liderança como algo mensurável, numa escala, totalmente alinhada com valores e resultados da organização. Tanto a atitude mental quanto as habilidades devem ser desenvolvidas nos líderes para que estes apoiem suas organizações para mudanças de comportamento desejáveis.
De acordo com
relatório do Fórum Econômico Mundial, de 2018, a fim de gerar resultados positivos e um melhor futuro do trabalho, são necessários liderança ousada e espírito empreendedor tanto de empresas quanto de governos, com uma mentalidade voltada ao
aprendizado contínuo dos funcionários. O entendimento das novas tecnologias é tão relevante quanto as “habilidades humanas” como criatividade, iniciativa, pensamento crítico, negociação, resiliência, flexibilidade e resolução de problemas complexos.
Para quem avalia que investimentos deste tipo geram mais custos com retornos duvidosos, vale considerar
estudo realizado em parceria entre a consultoria
Green Peak e a Universidade Cornell que analisou experiência, tipo de gestão e resultados de 72 executivos de empresas públicas e privadas. O estudo concluiu que os líderes que construíram boas relações de trabalho em suas equipes geraram melhores retornos financeiros.
Uma pergunta natural que surge é:
por onde começar um programa de liderança em uma organização? Aqui, a proposta é destacar alguns elementos do
Programa de Desenvolvimento de Liderança da NASA, que podem ser usados como ponto de partida. Sendo esta uma agência federal com forte interação com setor privado e complexas missões, aspectos deste programa podem ser úteis a diferentes perfis.
Quanto
aos valores, o programa declara que os candidatos devem demonstrar altos padrões de
honestidade, integridade, confiança, abertura e respeito. Apesar de ser estratégica, a participação no programa não é "garantia" de promoção para posição específica. Isto depende da maior eficácia da liderança do participante.
Sobre a
seleção, são apresentadas habilidades como: estar aberto a
feedback e novas ideias; Assumir riscos; Ter credibilidade inquestionável; E possuir competência técnica respeitada. A avaliação engloba entrevista e análise de documentos. Os candidatos são avaliados com base em fatores como: Visão, Preparação para o Desenvolvimento, Fatores Competitivos, Estratégia de Retorno, Aspectos Discricionários.
É comum o receio do investimento em líderes devido à dificuldade de retenção do indivíduo. Neste aspecto, é previsto que o candidato esteja comprometido com a agência, assinando contrato de serviço contínuo de três anos com a NASA antes de ser aceito pelo programa.
O programa atua como estímulo ao planejamento individual, pois cada candidato deve preparar seu Plano de Desenvolvimento Individual, como uma declaração de conhecimentos e habilidades específicos relacionados ao trabalho que o indivíduo busca melhorar ou fortalecer, juntamente com as atividades planejadas para adquirir o conhecimento e a experiência desejados. O programa tem duração de um ano, com seis encontros que ocorrem na forma de workshop envolvendo pontos como: aprendizado, coaching,
feedback e filmagens periódicas.
Independente do modelo a ser adotado pela organização é fundamental entender que o mundo do trabalho se transforma numa velocidade extraordinária, é imprescindível que líderes se preparem para impulsionar esta transformação, criando ambientes em que o equilíbrio e bem-estar dos colaboradores sejam igualmente valorizados como metas, prazos e resultados.
Grande valor deve ser atribuído à diversidade de perspectivas e contribuições que os indivíduos trazem para discussão. Antigas formas de exercer poder e autoridade devem dar lugar a novas formas de liderança.
Um conceito de liderança precisará ser reformulado para incluir a capacidade de promover a tomada de decisão e ação coletivas, encontrando sua mais alta expressão no serviço como um todo.
Jonny Carlos da Silva
Professor titular de Engenharia Mecânica-UFSC, pós-doutorado junto à
NASA, coach e palestrante. Autor do livro: Trabalho de Começo de Carreira.
Website:
http://profjonny.com.br