Por Camila Turtelli
Brasília, 19/05/2021 - O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello soube dos problemas relacionados ao abastecimento de oxigênio da rede de saúde do Estado do Amazonas na noite de 7 de janeiro de 2021, em uma conversa com o secretário de Saúde do Estado por telefone. É o que consta de uma nota técnica assinada pelo ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco enviada à Câmara dos Deputados, como resposta a um requerimento de informações.
“Quando esse ministério soube que faltaria oxigênio na rede de saúde do Estado do Amazonas, esclareço que, na noite de 7 de janeiro de 2021, este ministério tomou ciência de problemas relacionados ao abastecimento de oxigênio da rede de saúde do Amazonas. Tratou-se de uma conversa informal entre o secretário de Saúde do Estado do Amazonas e o ministro da Saúde, naquela noite, por telefone, apenas e tão somente para solicitar apoio no transporte de 350 cilindros de oxigênio de Belém para Manaus”, escreve Franco em resposta a um requerimento de informação feito pelo deputado José Ricardo (PT-AM).
A resposta chegou à Câmara no dia 16 de março. O parlamentar pergunta no requerimento quando o ministério soube que faltaria oxigênio na rede de saúde do Estado do Amazonas, entre outros questionamentos.
“Ainda pela noite, o ministro da Saúde coordenou, pessoalmente, o apoio com o ministro da Defesa e com o Comando Conjunto Amazônia para o transporte aéreo de 150 cilindros de oxigênio, totalizando 1.275m3 de Belém para Manaus, com entrega no dia 8 de janeiro, e de mais 200 cilindros para entrega no dia 10 de janeiro”, diz o ex-secretário-executivo exonerado da função no fim de março.
Franco diz ainda que no dia 9 de janeiro de 2021, foi enviado para o coordenador do Centro de Operações de Emergência do Ministério da Saúde, às 9h54, o Relatório Diário da Força Nacional do SUS (FN-SUS), com dados do dia anterior, no qual é citado, na primeira parte: “Foi mudado o foco da reunião, pois foi relatado um colapso dos hospitais e falta da rede de oxigênio. Existe um problema na rede de gás do município, que prejudica a pressurização de oxigênio nos hospitais".
Ouvido nesta quarta-feira, 19, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado, Pazuello, no entanto, disse ter sido informado sobre a falta de oxigênio em Manaus apenas no dia 10 de janeiro à noite.
“No dia 8 de janeiro, seis dias antes, nós já tínhamos iniciado o transporte aéreo de oxigênio para Manaus. […] Eu tomei conhecimento de riscos em Manaus no dia 10, à noite, numa reunião com o governador e o secretário de Saúde, quando eles me passaram as suas preocupações que estavam com problema logístico sério com a empresa White Martins”, disse Pazeullo na CPI.
O ministro contradiz também documento enviado pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em sua manifestação, é relatado que o Ministério da Saúde foi informado da crítica situação do esvaziamento de estoque de oxigênio em Manaus em 8 de janeiro, por meio de e-mail enviado pela empresa fabricante do produto, a White Martins. Além disso, a primeira entrega de oxigênio teria ocorrido apenas no dia 12 de janeiro, conforme dados prestados ao Supremo.
Na sequência dessa declaração contraditória, Pazuello argumentou na CPI que não teve conhecimento do e-mail da White Martins e que teria sido informado da situação apenas no dia 10, em uma reunião com o governador do Amazonas, Wilson Lima, e o secretário de saúde do Estado, Marcellus Campello.
Pazuello já havia mudado de versão sobre o mesmo assunto em depoimento à Polícia Federal. Na época, o Estadão mostrou que o ex-ministro atribuiu a data de 8 de janeiro no documento da AGU a um “equívoco” de um funcionário do Ministério da Saúde. No entanto, também existem declarações anteriores de Pazuello à imprensa em que afirma que a pasta soube do e-mail da White Martins sobre a falta do insumo no dia 8.
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