Agronegócios
22/07/2019 10:47

Perspectiva: clima nos EUA deve direcionar preços no mercado de grãos


Por Leticia Pakulski; Tomas Okuda e Isadora Duarte

São Paulo, 22/07/2019 - As previsões do tempo para os Estados Unidos e as negociações comerciais entre os EUA e China devem direcionar os preços futuros de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) nesta semana. A demanda por grãos norte-americanos também continua no radar dos investidores.

Os futuros de soja na CBOT terminaram em alta, impulsionados por rumores de que a China teria feito uma grande compra nos EUA. Consultorias agrícolas, no entanto, disseram não ter visto indícios dessa compra. O vencimento novembro da oleaginosa avançou 20,25 cents (2,25%), para US$ 9,1925 por bushel. Na semana, contudo, a queda foi de 1,32%. Segundo o analista Matheus Gomes Pereira, da ARC Mercosul, os boatos sobre uma aproximação comercial entre EUA e China começaram já pela manhã. Primeiro surgiram rumores de que os chineses estariam reduzindo as taxas VAT sobre importação de produtos agrícolas para tentar reaquecer a economia do país, mas não houve confirmação. “Essas conversas também indicavam que os chineses adicionariam novas compras de soja norte-americana no curto prazo, só que a gente falou por telefone com alguns contatos comerciais nos EUA e não foi relatado nenhum tipo de movimento de venda no mercado físico norte-americano de soja. Assim, não tivermos qualquer concreta de que essa soja de fato foi vendida para ser embarcada em direção à China.”

Em comentário semanal, a corretora Labhoro destacou a expectativa de que oficiais norte-americanos e chineses estariam próximos de marcar novas negociações presenciais. “Entretanto, se negociações presenciais não forem agendadas nos próximos dias, pode ser um sinal de que a administração Trump irá aplicar novas tarifas para pressionar a China”, disse a corretora. “O presidente Donald Trump afirmou que os EUA e a China ainda têm um longo caminho pela frente para alcançar o acordo comercial, e que ele poderia impor mais tarifas, equivalentes a 325 bilhões de dólares em bens chineses se necessário.”

Os ganhos da sexta-feira também foram estimulados pela recompra de contratos após quedas nas quatro sessões anteriores, segundo Pereira. Do lado do clima, a previsão para os EUA melhorou de quinta para sexta-feira, com mais chuvas adicionadas para o cinturão agrícola, principalmente para as regiões mais afetadas por seca - o norte de Illinois, o leste de Iowa, o sul de Wisconsin, destacou o analista. Eram esperadas precipitações para o fim de semana na casa dos 20 a 40 mm. “Essas chuvas vão favorecer bastante as regiões que sofrem com qualquer sinal de estresse hídrico. Poderemos observar uma estabilização dos níveis de umidade do solo de todo o cinturão agrícola”, disse. “Só que a manutenção desses níveis será dependente de uma regularização das chuvas. A gente vai ter que observar mais chuvas na última semana de julho e no começo de agosto também para que novos problemas não surjam com possíveis secas no cinturão agrícola.”

De acordo com boletim da Labhoro, para os próximos dias estavam previstas chuvas de 50 a 75 mm no leste do Kansas, oeste do Missouri, Kentucky e Tennessee, e de 10 a 25 mm no Texas, centro-oeste do Kansas, Nebraska, Dakota do Sul, centro-leste de Dakota do Norte, norte de Minnesota, Iowa, Indiana e Michigan. Também eram esperadas precipitações de 30 a 50 mm no Delta, Mississippi, centro-leste do Missouri, Illinois, Ohio, Wisconsin e sul de Minnesota.

O milho também terminou em alta na sexta-feira na CBOT, influenciado pelo desempenho do trigo. Os dois grãos são substitutos diretos em ração animal e, por isso, tendem a se mover na mesma direção. Investidores também aproveitaram os preços mais baixos da commodity para recomprar contratos, após o mercado ter acumulado queda de 6,42% nas quatro sessões anteriores. O vencimento dezembro do milho subiu 6,00 cents (1,40%) e terminou em US$ 4,3575 por bushel. Ainda assim, a queda na semana foi de 5,12%.

Os ganhos do milho, no entanto, foram um pouco menos expressivos do que os do trigo por causa da expectativa de melhora do clima no Meio-Oeste dos Estados Unidos. A região teria calor intenso até o sábado, mas depois disso o tempo ficaria mais fresco e úmido, o que deve beneficiar o desenvolvimento das lavouras. Para Karl Setzer, da AgriVisor, a previsão de condições mais favoráveis pode ter limitado o movimento de recompra de contratos. Já Doug Bergman, da RCM Alternatives, observou que as quedas recentes provavelmente foram algo temporário. "Não acho que o evento climático histórico que afetou o plantio este ano tenha sido completamente precificado", disse o analista.

O trigo terminou em alta na sexta-feira em Chicago. Os preços do cereal tinham recuado nas quatro sessões anteriores e acumulado desvalorização de 5,64% no período, o que atraiu compradores. Segundo traders, no entanto, os preços do grão norte-americano precisam cair para que o produto fique competitivo no mercado de exportação. As licitações de compra da agência estatal de grãos do Egito, conhecida como Gasc, vêm sendo dominadas por trigo da Rússia e do Leste Europeu. O Egito é o maior importador mundial do grão. Na CBOT, o vencimento setembro do trigo avançou 9,00 cents (1,82%) e fechou em US$ 5,0250 por bushel. O recuo na semana foi de 3,92%.

Café: contratos sobem 0,6% na semana

Os contratos futuros de café arábica apresentaram valorização de cerca de 2,65% (65 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base vencimento setembro de 2019. As cotações encerraram na sexta-feira (19), a 107,30 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 110,65 cents (terça, dia 15) e mínima de 104,45 cents (terça, dia 15 ).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que o mercado físico de café no Brasil apresentou-se comprador na semana passada, mas com volume pequeno de negócios fechados, bem abaixo do usual para esta época do ano. "Nas bases de preços oferecidas pelos interessados, os cafeicultores brasileiros não mostram interesse em colocar a venda seus lotes da nova safra 2019/2020", diz Carvalhaes. Segundo a corretora, os produtores estão bastante preocupados com o aumento dos custos de produção e com a frequência cada vez maior de eventos climáticos não usuais.

Conforme Carvalhaes, agrônomos e cafeicultores continuam avaliando as perdas com a forte frente que atingiu os cafezais brasileiros no primeiro fim de semana deste mês de julho. "É provável que não tenham condições de nos darem tão cedo uma visão melhor dos danos para a próxima safra de café 2020/2021. As chuvas que caíram fora de hora, alguns dias antes da chegada da frente fria, em pleno início de inverno, sobre diversas regiões produtoras de café, estão induzindo a abertura, também fora de hora, de floradas em pleno mês de julho. "É mais um evento que deve levar a perdas na safra brasileira 2020/2021", observa Carvalhaes.

Açúcar: mercado pode voltar ao nível de 12 cents

O mercado futuro de açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures) inicia a semana buscando operar próximo do patamar de 12 cents. Na sexta-feira, o vencimento outubro subiu 4 pontos (0,35%) e terminou em 11,59 cents por libra-peso, com fundos e especuladores aproveitando os baixos preços para recomprar posições. O contrato tinha caído nos seis pregões anteriores, acumulando no período perda de 7,6%, ou 95 pontos.

Parte desse movimento se refletiu no relatório da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês), divulgado na sexta-feira após o fechamento do mercado. O levantamento mostrou que fundos e especuladores aumentaram significativamente suas apostas na queda dos preços do demerara em Nova York. Na semana encerrada em 16 de julho, a posição líquida vendida dos fundos aumentou 32,7%, passando de 84.339 para 111.901 lotes.

Investidores continuam atentos a quaisquer novidades que possam indicar com mais clareza se a safra global 2019/20 está pendendo mais para um déficit ou para um excedente de oferta. Traders ainda estão céticos quanto às estimativas que apontam para déficit na temporada.

Contato: leticia.pakulski@estadao.comm; tomas.okuda@estadao.com e isadora.duarte@estadao.com]
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