Agronegócios
27/08/2020 12:07

Exclusivo: Grupos Luxor e Meraki investem R$ 5 milhões em projeto de agrofloresta/pecuária em Mato Grosso


Por Tânia Rabello

São Paulo, 27/08/2020 - Um projeto de R$ 5 milhões no Estado de Mato Grosso deve mostrar ainda este ano que a pecuária, setor costumeiramente alvo de ataques de ambientalistas, pode ser sustentável. A ideia do Grupo Luxor, empresa familiar de capital fechado, que, além da agropecuária, explora os setores hoteleiro e imobiliário, é juntar bovinos, pastagens e agrofloresta num grande espaço experimental, de 1,2 mil hectares, no município de Pontes e Lacerda, no oeste mato-grossense.

A Fazenda São Benedito, onde será desenvolvido o projeto, já trabalha com pecuária de corte, diz o head do Luxor Agro - braço agropecuário do grupo -, Daniel Baeta. "Desde a década de 1970 mantemos ali gado de recria e engorda a pasto, num modelo bem tradicional de pecuária", conta ele ao Broadcast Agro, acrescentando que, atualmente, 800 cabeças estão alojadas ali, em 850 hectares, onde a pastagem de braquiária predomina. "É uma pecuária bastante extensiva; a engorda é 100% a pasto", descreve.

A área de reserva legal da fazenda, que fica dentro do bioma Cerrado, compreende 350 hectares de mata nativa e também dali a Luxor Agro espera obter algum rendimento por meio do novo sistema - obviamente, com a floresta em pé. Além disso, o projeto contempla o aumenta da área de reserva legal e também de áreas de proteção permanente (APPs).

Para levar à frente a empreitada, denominada Projeto Pasto Vivo, a Luxor Agro contratou a Pretaterra, especializada em implantação de modelos agroflorestais no Brasil e em outros países. Em São Paulo, por exemplo, fez o desenho de agrofloresta para um dos maiores empreendedores orgânicos do País: o ex-piloto de fórmula 1 Pedro Paulo Diniz, que hoje produz principalmente ovos orgânicos no município de Tapiraí (SP), na Fazenda da Toca, conhecida no circuito de agricultura e consumo sustentáveis.

O projeto tem também como investidor o Meraki Impact. Já o Savory Institute (de agricultura holística e regenerativa), o Climate Smart Group e a Renature (ligados ao segmento de créditos de carbono) além da Embrapa Solos, contribuirão na área de pesquisa, avaliação de impacto, negócios e sistemas agroflorestais integrados.


Valter Ziantoni e Paula Costa, da Pretaterra, na Fazenda São Benedito, onde será implementado o projeto agrofloresta. FOTO: Pretaterra

Um dos gestores da Pretaterra, o engenheiro florestal Valter Ziantoni, relata que, no atual estágio, está se fazendo o levantamento das espécies que vão compor o sistema agroflorestal, inclusive no meio da pastagem, a fim de garantir alimentos alternativos para o gado, sombreamento e maior diversidade vegetal na área - além, é claro, de retorno econômico de todo o sistema. "O pasto da São Benedito é predominantemente de braquiária; a ideia é plantar algumas espécies arbustivas que sejam palatáveis ao gado, garantindo maior diversidade", explica Ziantoni citando, por exemplo, o "margaridão" (Tithonia diversifolia).

Sócia de Ziantoni na Pretaterra, a engenheira florestal Paula Costa acrescenta que neste momento também se está elaborando o "desenho" do projeto dentro da área da fazenda. Ou seja, o que vai ser plantado e em que parcela da propriedade. "Estamos selecionando as espécies vegetais, como castanhas e outras frutas, além de árvores que dão madeira e essências florestais, para compor o sistema", comenta. Ela reforça que o projeto, justamente pelo seu ineditismo em relação à escala em que estará sendo implementado, está sendo estudado e construído em seus mínimos detalhes. "Nada será iniciado antes de termos um projeto muito bem desenhado, com todas as suas potencialidades ambientais e econômicas", diz.

Inicialmente, na área piloto, grãos como milho e soja também estarão na mesma área, tendo como base os preceitos da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) - que a Pretaterra chama de sistema agrossilvipastoril -, em que grãos e pasto são semeados simultaneamente, além de espécies arbóreas. Assim que o grão, como milho, por exemplo, é colhido, o gado entra no pasto já germinado e com massa verde adequada. Enquanto isso, as árvores vão tomando corpo e garantirão, mais à frente, além de sombra para os animais, uma terceira fonte de renda - seja na venda de madeira, seja na produção de essências ou castanhas, a depender da espécie plantada.

Entretanto, Paula e Ziantoni dizem que, embora esse plantio inicial siga algumas regras do ILPF - desenvolvido e preconizado pela Embrapa -, será um sistema muito mais diversificado de espécies vegetais do que um ILPF convencional, em que geralmente se plantam grãos como milho ou soja, uma espécie de pasto e uma espécie arbórea que produz madeira. "Sob este aspecto, vamos seguir os preceitos de diversificação da agrofloresta, reunindo plantas que deem retorno econômico e que possam também alimentar os bovinos."

Ziantoni complementa dizendo que o momento atual é de "ajuste fino" das espécies vegetais que integrarão o projeto. "Estamos avaliando as plantas que serão usadas na ampliação da reserva legal e das APPs, no pasto e na agrofloresta.

A ideia, contam Paula Costa e Valter Ziantoni, é iniciar os primeiros plantios logo que a estação chuvosa retornar em Mato Grosso, por volta de meados de novembro. "Até lá já teremos o desenho do sistema e todo o seu potencial produtivo e a área piloto instalada", diz o engenheiro florestal. Ambos contam que, além do know how adquirido ao longo de mais de dez anos que trabalham com agrofloresta, a Pretaterra também tem assessoria, neste projeto, de pesquisadores da Embrapa, por exemplo, na indicação das espécies de plantas que se adaptam à região e podem servir de alimento aos bovinos.

Segundo os engenheiros florestais, o projeto Pasto Vivo tem por objetivo criar "o melhor modelo pecuário agroflorestal do mundo", mas que seja, sobretudo, possível de replicar em outras propriedades pecuárias do País. "Este requisito é fundamental", reforça Paula Costa. "Vamos criar um sistema inédito de produção sustentável de alimentos, que alia agrofloresta e pecuária numa grande área, mas que seja possível de ser reproduzido nas propriedades do entorno", detalha.

A viabilidade econômica também é exigência primordial da Luxor Agro e dos outros investidores, assinala Daniel Baeta. "O que queremos é o retorno financeiro aliado à sustentabilidade ambiental do sistema", diz. "Somos, antes de tudo, investidores, e queremos o retorno desse investimento." O executivo comenta ainda que, para que o projeto consiga ter um impacto positivo no setor agropecuário, deve "ter escala" e por isso decidiu aplicar o experimento em uma área grande, de 1,2 mil hectares - o equivalente aproximadamente a 1,2 mil campos de futebol. "Assim conseguiremos um efeito relevante tanto no Brasil quanto no mundo, provando que a pecuária pode, sim, ser uma atividade lucrativa e sustentável", assinala.

Contato: tania.rabello@estadao.com
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