Por Isadora Duarte
São Paulo, 02/09/2020 - A rentabilidade das commodities e a comercialização antecipada da safra de grãos 2020/21 puxaram o investimento em adubos para a temporada iniciada em julho. A Scot Consultoria prevê que a demanda por esse insumo no País cresça entre 2% e 3% no ano, para um volume entre 37 milhões de toneladas e 37,5 milhões de toneladas entregues.
“A relação de troca entre fertilizante e grão melhorou entre 25% a 30% ante o ciclo anterior, o que favorece o investimento do agricultor. Somada a isso, as expectativas positivas para a nova colheita também têm incentivado o uso de tecnologias nas lavouras”, observa o analista de mercado da Scot Consultoria Rafael Ribeiro. Ele explica que, na comparação entre as temporadas, o preço dos adubos subiu, mas a valorização dos grãos foi superior, o que compensa o maior desembolso com os insumos.
Ribeiro diz que a demanda de adubos para soja e milho vai puxar o resultado - esses grãos terão incremento de área plantada. Dois terços desse montante, 67%, deve ser empregado nas culturas de verão - soja (44%), milho (16%) e algodão (7%).
A safra brasileira de verão 2020/21 começa a ser plantada neste mês e praticamente todo volume de adubos a ser utilizado nas lavouras já foi vendido. Agora, os produtores se concentram nas entregas. “As compras foram antecipadas, especialmente em abril e maio. As entregas ganharam força a partir de julho e, apesar da distribuição concentrada neste período, a logística ocorre sem problemas”, observa Ribeiro.
Em Mato Grosso, maior produtor de grãos do País, 50,4% da safra 2020/21 de soja foi comercializada antecipadamente, o que contribui para o apetite de compras do produtor, observa o gerente de Inteligência de Mercado do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer. “Portanto, o produtor sabe a receita que terá na colheita e pode planejar os custos e investir em tecnologias para alcançar maior produtividade”, diz Gauer.
Além da venda adiantada, a perspectiva de incremento de 2,2% na área plantada com soja no Estado, para 10,207 milhões de hectares, também explica o maior consumo de adubos em Mato Grosso. “Essa área adicional que será destinada às lavouras de soja na maior parte era usada para pastagem, o que exige um investimento mais pesado em fertilização do solo”, acrescenta Gauer.
No Paraná, o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Estado, também aponta aumento da área plantada com soja e com milho, de 1% no ciclo 2020/21, para 5,530 milhões de hectares e 358,6 mil hectares, respectivamente. “O produtor capitalizado tende a comprar um pouco mais de fertilizante para aumentar a produtividade e maximizar rentabilidade, embora não seja um incremento expressivo. E na época das compras, a relação de troca estava muito favorável o que favoreceu o investimento”, comenta o diretor do Deral, Salatiel Turra.
Turra acrescenta que as entregas de insumos devem ganhar ritmo a partir de 11 de setembro - início da janela de plantio de soja no Estado. “Há casos pontuais de propriedades com estrutura para armazenar adubo, mas a maior parte fica alocada nas cooperativas e o produtor busca conforme a necessidade e o ritmo de semeadura”, diz o diretor do Deral.
Em compensação, no Rio Grande do Sul o cenário é um pouco menos atraente para o investimento do agricultor nas lavouras da safra 2020/21. A safra 2019/20 de grãos do foi 30% inferior que a colhida no ciclo anterior e as lavouras de trigo também devem apresentar rendimento menor do que o esperado. Presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-RS), Luis Fernando Fucks acredita que, diante dessa conjuntura, o gasto dos produtores gaúchos com adubos deve ser comedido, mas descarta retração no consumo. “A quebra na produção 2019/20 e o comprometimento da safra de trigo 2020 devem frear a aplicação adicional de insumos. Mas o agricultor tende a usar o volume mínimo necessário dentro da normalidade para obter uma safra boa”, projeta Fucks.
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