Por Leticia Pakulski
São Paulo, 30/09/2020 - Além do Sustainable Agricuture Finance Facility (SAFF), mecanismo destinado a financiar a adoção de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), o Laboratório Global de Inovação em Finanças Climáticas (Global Innovation Lab for Climate Finance - o Lab) lançou ontem (29) outra solução financeira com foco no Brasil que passou por aceleração neste ano.
Trata-se do Conexsus Impact Fund, desenhado pelo Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus) para aumentar a participação de associações, cooperativas e pequenas empresas que atuam em sistemas de produção sustentáveis nas linhas de crédito subsidiadas do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Segundo a diretora-executiva do Instituto Conexsus, Carina Pimenta, o fundo faz parte de uma plataforma de investimentos em negócios que trabalham com conservação de florestas e biomas. "São prioritariamente negócios comunitários, associações e cooperativas, que normalmente não têm acesso a nenhum tipo de crédito e estrutura de financiamento", aponta Carina. "Essas organizações de pequenos produtores que são a base de cadeias de açaí, cacau e castanha do Brasil, que geram conservação da biodiversidade, melhora do uso do solo e um maior sequestro de carbono precisam de recursos de várias naturezas, associados a assistência técnica e de gestão, de forma que consigam se estruturar como negócio."
Além das cadeias presentes na Amazônia, o fundo apoiará pequenos produtores e projetos de agricultura familiar que adotem práticas de agrofloresta e agroecologia no restante do País. A ideia é que o Conexsus repasse pequenos montantes de recursos para produtores ou organizações para custeio de safra e capital de giro. "É um investimento híbrido. Produtor acessa um empréstimo que posteriormente terá de quitar e recebe um benefício de gestão e assistência técnica para habilitá-lo para o crédito rural", explica Carina.
A ponte para o Pronaf, segundo a executiva, viria de uma combinação de fatores. "Produtor ou organização começam a tomar crédito com a gente, passam a ter um histórico, o que faz com que os bancos os vejam com melhores olhos. Além disso, a assessoria que recebem depois de tomar o empréstimo ajuda a fazer a gestão documental e financeira para torná-los mais aptos a buscar o crédito rural." Um terceiro elemento é que o Conexsus pode fornecer garantia complementar (aval) aos bancos para destravar o crédito para grupos que desenvolvem projetos sustentáveis. O fundo fornece ainda empréstimos de capital de giro em que uma parte dos recursos pode ser destinada à quitação de dívidas tomadas a taxas mais altas.
A ideia é permitir a inclusão de produtores, cooperativas e associações que hoje não conseguem chegar até o recurso oficial. "Há um processo de 'esverdear' o Pronaf, ou seja, garantir que mais cadeias de produção sustentável acessem esse recurso", apontou Carina. Segundo ela, a ideia não é competir com a política pública e sim fortalecê-la. "A gente faz o empréstimo com a ambição de que o beneficiado vá usar o crédito rural lá na frente e não fique refém do fundo.”
No ano passado, foram feito 17 projetos pilotos de pequenos financiamentos para testar o modelo e neste ano o Conexsus estruturou uma linha emergencial para mitigar os efeitos da pandemia sobre pequenos negócios rurais. A meta do fundo é nos próximos seis meses atingir carteira de crédito de US$ 10 milhões, alavancando até dez vezes este valor em linhas de crédito do Pronaf mais acessíveis para os beneficiados. O objetivo é chegar a 600 negócios de impacto socioambiental, atingindo 30 mil famílias de pequenos produtores e extrativistas em 2,5 milhões de hectares.
Entre os financiadores do Conexsus, estão Fundo Vale, Fundação Good Energy, Instituto GPA, B3, Clua (Climate and Land Use Alliance) e Fundação Arymax. Atualmente, a linha emergencial para a pandemia tem taxa de 6% ao ano, com prazo de até 24 meses. Com a expansão do fundo, a ideia é trabalhar com taxas entre 6% e 9% para empréstimos diretos em operações de garantia ligadas ao Pronaf. Nesse caso, os prazos são maiores, em torno de 3 anos, chegando até 8 a 10 anos para operações de garantia ligadas a investimento.
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