Por Marcela Guimarães
São Paulo, 29/09/2020 - O elevado volume de compras chinesas de grãos norte-americanos nos últimos meses atende mais a uma necessidade da potência asiática do que o cumprimento da primeira fase do acordo comercial fechado com os Estados Unidos no início deste ano, avalia a Capital Economics.
"Mas, em vez de refletir o desejo de cumprir suas obrigações para com os EUA, acreditamos que a compra da China reflete principalmente oportunidade de preços baixos e um aumento nas necessidades de importação mais amplas do país", avalia a consultoria em relatório enviado a clientes nesta terça-feira.
A Capital Economics afirma que o número de suínos tem aumentado na China (após controlar a peste suína africana), o que resultou em uma maior demanda por ração animal à base de soja e de milho. Ao mesmo tempo, os danos climáticos à safra de milho da China significam que o país deve recorrer a importações para atender à demanda interna, o que não é comum, afirma a Capital Economics. "Parece provável que a China estaria comprando mais produtos agrícolas dos EUA de qualquer maneira, independentemente do acordo fechado em janeiro".
"Ao todo, pensamos que a China está matando dois coelhos com uma cajadada só ao aumentar suas importações de commodities dos EUA. Ele está cobrindo um déficit no abastecimento doméstico, ao mesmo tempo que parece mostrar disposição de ceder na disputa comercial", afirma a consultoria. "Não achamos que as compras ofereçam qualquer aumento significativo para os preços", prevê.
Ainda de acordo com a Capital Economics, o aumento da demanda chinesa por milho e soja já deve estar precificado pelo mercado. E o quadro geral é que os estoques globais permanecem altos, o que funcionará como um teto para os preços daqui para frente.
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