Política
04/08/2020 09:40

Exclusivo: Congresso discute prorrogar calamidade para liberar gastos até 2021


Por Daniel Weterman

Brasília, 03/08/2020 - O Congresso Nacional colocou no radar a possibilidade de adiar o decreto de calamidade pública no País para 2021 se os efeitos da pandemia de covid-19 se estenderem para o próximo ano. A prorrogação daria aval para o governo Jair Bolsonaro gastar mais no próximo ano com a justificativa de combater as consequências da doença.

Parecer das consultorias da Câmara e do Senado sugere colocar uma brecha na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) pavimentando o terreno para o adiamento da calamidade pública. A proposta enviada pelo governo não traz essa possibilidade, mas poderá ser alterada pelo Congresso. A tramitação da LDO está parada em função do apagão das comissões do Legislativo.

O decreto em vigor fixou a calamidade até 31 de dezembro deste ano. Dessa forma, o governo não precisará cumprir a chamada regra de ouro - que o proíbe de se endividar para pagar despesas correntes - e nem fazer bloqueios no orçamento para atingir a meta fiscal. Um adiamento levaria o Executivo a gastar sem essa rigidez também em 2021.

A calamidade pública só poderá ser adiada com outro decreto a pedido do governo. O que as consultorias sugerem é deixar a LDO pronta para esse cenário. De acordo com técnicos do Congresso, será preciso alterar o projeto deixando a hipótese de prorrogação em 2021 a depender do quadro da pandemia.

O Brasil atingiu 94.226 mortes pelo novo coronavírus até o último levantamento, às 13 horas de hoje, com uma média de mais de mil novos óbitos diários nas últimas sete semanas, de acordo com o consórcio formado por Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL.

A discussão vem na esteira da articulação para aumentar gastos e aproveitar as regras da pandemia para fazer investimentos, conforme o Estadão/Broadcast revelou. O decreto de calamidade possibilitou a aprovação do Orçamento de Guerra, criando uma conta paralela para as despesas relacionadas à covid-19.

No projeto da LDO, o governo sugere adotar uma meta fiscal de resultado das contas públicas flexível em 2021 por causa das incertezas provocadas pela covid-19. O parecer das consultorias, porém, propõe fixar uma meta com valor definido - assim como nos anos anteriores -, mas permitindo um "afrouxamento fiscal" com o possível adiamento do estado de calamidade.

"Se a doença atravessar o ano em expansão, deve adiar", afirmou o líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA). O partido indicará o relator da LDO neste ano, que deverá ser o senador Irajá Abreu (PSD-TO). O debate, porém, ainda não tem consenso. "É muito cedo ainda para falar sobre isso. Temos que ter muita cautela neste momento", argumentou o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM).

Estratégia
Na avaliação de parlamentares e técnicos do Congresso, o adiamento da calamidade serviria para o Executivo federal colocar em campo a estratégia de fazer investimentos com regras fiscais mais leves. O Planalto poderia, dessa forma, aproveitar a pandemia para colocar recursos no programa Pró-Brasil.

"A reconstrução da economia nacional, que será necessária a partir dos efeitos da pandemia, vai exigir medidas extraordinárias e isso pode ensejar o pedido por parte do Executivo como forma de dar maior margem utilizando o Orçamento de Guerra", afirmou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que foi relator do decreto de calamidade na Câmara.

O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), admitiu que o adiamento da calamidade está no radar do Planalto. "Só não sabemos se a característica vai ser a mesma. Talvez seja outro instrumento", afirmou. Antes disso, declarou, será preciso resolver questões mais emergenciais, como o alongamento do auxílio emergencial de R$ 600.

Procurados, a Presidência da República, o Ministério da Economia e o Ministério da Saúde não responderam até o momento sobre a possibilidade de adiar o decreto de calamidade pública para 2021.

Contato: daniel.weterman@estadao.com
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast Político e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso