Por Amanda Pupo
Brasília, 04/04/2021 - Os depoimentos dos três ex-ministros da Saúde do governo Bolsonaro e do atual titular da Pasta vão inaugurar, nesta semana, os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado. Os parlamentares também ouvirão, na quinta-feira (6), o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres. O dia mais aguardado, no entanto, é a quarta-feira (5), quando o general do Exército e mais longevo ministro da Saúde durante a pandemia, Eduardo Pazuello, será interrogado.
As convocações foram aprovadas na semana passada. A fila é inaugurada nesta terça-feira (4), às 10h, com o depoimento de Luiz Henrique Mandetta (DEM). Ministro da Saúde quando o novo coronavírus chegou ao Brasil, Mandetta ocupou o posto até abril do ano passado. Hoje, os senadores também vão ouvir o segundo titular da pasta no governo Bolsonaro, Nelson Teich.
O Brasil tinha registrado um total de 1.924 mortes pela covid-19 quando Mandetta saiu do governo, após um mês de intenso conflito com o presidente Jair Bolsonaro. Hoje, esse número é menor que a média diária de óbitos, acima de 2 mil. Desde o início da crise causada pela pandemia, Mandetta e o presidente se desentenderam publicamente sobre a estratégia de combate à doença.
A opção do ex-ministro de manter as orientações da pasta a favor do isolamento social enquanto o Bolsonaro já se colocava contrário a essas medidas estremeceu a relação, afetada ainda pela a defesa do presidente ao uso da cloroquina em pacientes da covid-19.
"Henrique Mandetta foi exonerado do cargo de Ministro da Saúde justamente por defender as medidas de combate à doença recomendadas pela ciência", disse o senador e integrante da CPI, Randolfe Rodrigues (REDE-AP), ao apresentar o requerimento de convocação de Mandetta. Desde que saiu do governo, o ex-ministro já publicou um livro sobre os bastidores de sua gestão na pandemia e tem seu nome especulado para uma eventual candidatura à presidência em 2022, o que o torna um alvo importante de governistas que integram a comissão.
Sucessor de Mandetta no comando da Saúde, o oncologista Nelson Teich ficou menos de um mês no cargo e adotou uma postura mais reservada ao falar do ex-chefe após deixar o ministério. Teich saiu da pasta pressionado a ampliar o uso da cloroquina contra a covid-19, que à época já tinha causado quase 15 mil mortes no País.
A participação mais expressiva de militares na gestão da pandemia começou a se consolidar durante os poucos dias que Teich passou à frente do ministério - uma forma de o governo tutelar os passos do oncologista. Foi nesse período que Pazuello foi nomeado como secretário-executivo do Ministério da Saúde, ficando a um passo de se tornar o titular da pasta.
Pazuello assumiu a posição interinamente após a saída de Teich, em maio, e foi efetivado quatro meses depois, em setembro, como ministro da Saúde. Na ocasião, o número de mortos pela doença já tinha saltado para 134.106. Com o Brasil próximo da marca de 300 mil vítimas fatais pelo novo coronavírus, Pazuello deixou o cargo em março sob forte insatisfação do Congresso, governadores e prefeitos.
Hoje na Secretaria-Geral do Exército, o general será ouvido na CPI a partir das 10h de quarta-feira. Sob sua gestão na Saúde, Manaus (AM) enfrentou uma crise severa de abastecimento de oxigênio no início do ano, quando pessoas morreram por asfixia e outras precisaram ser transferidas para receber atendimento médico em outros Estados. A situação levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a abrir um inquérito para investigar a conduta de Pazuello no caso, apuração que foi remetida à Justiça Federal do DF após o general perder o foro privilegiado de ministro de Estado.
Outro "ponto fraco" para Pazuello é a postura do Ministério da Saúde sob seu comando na aquisição de vacinas contra a covid-19, além do incentivo e entrega em massa da cloroquina para tratar pacientes com a doença. "Falhas na estratégia de comunicação; nas ações de vigilância e mapeamento da pandemia; promoção de tratamentos ineficazes; má gestão das necessidades de leitos de UTIs no país; falhas no planejamento de fornecimento de insumos básicos como oxigênio, medicamentos, EPIs, testes, respiradores; atraso e omissão para a compra de vacinas", listou Randolfe na pedido de convocação de Pazuello.
Para encerrar o ciclo de depoimentos de ministros da Saúde da gestão Bolsonaro, o médico e atual titular da pasta Marcelo Queiroga será interrogado pelos senadores na quinta-feira, a partir das 10h. Queiroga assumiu o posto em março com a missão de colocar o Brasil a par de um programa robusto de imunização contra a covid-19, plano que ainda sofre com ritmo lento. No mesmo dia, a CPI também deve ouvir, na parte da tarde, o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres.
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