Por Cynthia Decloedt
São Paulo, 24/10/2019 - A desaceleração global dispensa grande atenção e tem potencial de interromper o processo de crescimento no Brasil, uma vez que a balança comercial e os preços das commodities tendem a ser afetados nesse cenário, com impacto no País, disse o economista-chefe do Citi Brasil, Leonardo Porto. Nesse sentido, o economista, embora tenha comemorado a aprovação da reforma da Previdência, defende que o País se concentre em outras agendas.
Em evento na sede do banco na capital paulista, Porto notou que há quatro reformas em andamento e que não está clara qual será a prioridade. “O que parece evidente é que a tributária será o foco. Privatização é agenda importante para a estabilização fiscal e crescimento e mais relevante para o crescimento diretamente do que tributária, a qual é complexa e levará tempo para ser aprovada”, disse.
“Temos de monitorar os riscos externos e se a desaceleração da economia global for maior do que estamos esperando e tivermos um cenário de recessão, isso não será positivo ao Brasil e poderá afetar negativamente o ritmo de recuperação do País”, afirmou, lembrando que esse não é o cenário-base do banco.
Porto destacou que o crescimento do País está sendo baseado no estímulo monetário e que há uma clara indicação de que o Banco Central seguirá movendo a taxa Selic para baixo, olhando para a meta da inflação. “O Brasil vive em um cenário de juro em patamar muito baixo e a meta de inflação está caindo, sendo esse o motivo dos cortes de juro e por isso achamos que o juro baixo é permanente pelos menos nos próximos trimestres”, observou.
Ele notou que, ao mesmo tempo, está havendo um descolamento entre a produção industrial e o consumo, observando que tal movimento já é efeito da desaceleração global. “Não vemos essa tendência de desaceleração global mudando em 2020 e isso vai afetar as exportações brasileiras e a dinâmica local”, previu Porto. Por conta disso, o economista espera também que os preços das commodities sigam pressionados no ano que vem e que o real possa ser afetado, em termos de depreciação, se o cenário das commodities mais baixas persistir.
O economista disse ainda que o Citi espera que a taxa Selic chega aos 4,5% ao final de 2019 e que, por enquanto, o banco acredita que esse patamar será mantido em 2020. Ao mesmo tempo, o banco revisou, segundo ele, a projeção para o IPCA este ano, de 3,5% para 3,1% e prevê a inflação em 3,6% em 2020. “A inflação seguirá abaixo da meta em 2020”, notou. O economista também informou que a previsão do Citi é de que a taxa de desemprego continue desacelerando, mas continue em dois dígitos.
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