Por Isadora Duarte
São Paulo, 26/08/2020 - A massa polar que provocou geadas na Região Sul no fim da semana passado comprometeu o desenvolvimento das lavouras de trigo no Paraná e no Rio Grande do Sul. No Paraná, os estragos foram mais intensos. As plantações já haviam sido prejudicadas por um período prolongado de chuva e isso pode resultar em menor produtividade e qualidade. "Teremos perdas na produção de trigo no Estado", confirma o engenheiro agrônomo e coordenador da Divisão de Estatísticas do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Estado, Carlos Hugo Godinho.
O impacto das perdas e a extensão das áreas danificadas, contudo, ainda estão sendo mensurados. "Em geral, estima-se que, aproximadamente, um terço das áreas de trigo do Estado, que está em floração ou em enchimento de grãos, pode apresentar problemas que serão melhor avaliados em 10 dias", disse Godinho. De acordo com o Deral, nas regiões oeste e centro-Oeste do Estado, o acúmulo de gelo no solo foi moderado; já o sudoeste registrou geadas mais intensas. "Como lá encontram-se muitas lavouras em fases suscetíveis, deve ser a região mais prejudicada", conta o engenheiro agrônomo. O norte não registrou o fenômeno. O centro-sul e o sul podem apresentar apenas problemas pontuais, já que têm poucas lavouras em estágio suscetível.
Clima adverso: Lavoura de trigo no Rio Grande do Sul após geada
Foto: Hamilton Jardim/Acervo pessoal
A estimativa mais recente do Deral apontava para safra de 3,685 milhões de toneladas - que seria a maior desde 2017. A projeção deve ser revisada para baixo, com a perspectiva de queda na produtividade de parte da área semeada no Estado de 1,13 milhão de toneladas. Porém, o levantamento de agosto do Departamento, a ser divulgado em breve, tende a não incluir os efeitos totais das geadas e do excesso hídrico. "Demorará ao menos uma semana para que os efeitos das geadas sejam mais aparentes", acrescenta Godinho.
A Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) também está buscando informações sobre os prejuízos na cultura junto às cooperativas filiadas. "Temos relatos de perda de qualidade por excesso de chuvas na região norte e noroeste do Estado e perdas por geada no este e sudoeste do Paraná", conta o gerente de Desenvolvimento Técnico da Ocepar, Flávio Turra, acrescentando que os impactos devem ser identificados nos próximos dias.
Tanto a geada como a umidade em excesso são desfavoráveis ao amadurecimento do cereal, já que a primeira tende a queimar as plantas, enquanto a segunda prejudica o enchimento do grão e colabora para o aparecimento de fungos e doenças. Até a última segunda-feira (17), segundo o Deral, 29% da área com trigo se encontrava em desenvolvimento vegetativo, 30% em floração, 33% em frutificação e 8% em maturação. A colheita do cultivo no Estado deve iniciar nos próximos dias pela região Norte.
Em compensação, no Rio Grande do Sul, que semeia a safra depois do Paraná, o impacto do clima foi menor em extensão de área, segundo representantes do setor produtivo. "As lavouras estavam em estágios diferentes, mas os danos foram significativos. Ainda é cedo para mensurar o tamanho e extensão das perdas", conta o vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, Hamilton Jardim. Ele acredita que a entidade terá números prévios sobre as perdas até o fim desta semana. No início do mês, a Farsul previa safra de pelo menos 3 milhões de toneladas, com área plantada de 930 mil hectares.
A Emater-RS informou que está realizando levantamento sobre a situação das lavouras gaúchas. "Já observamos perdas em culturas temporárias e perenes", antecipa o técnico da Emater-RS, Alencar Rugieri. Analista da Solo Corretora de Ijuí (RS), Índio Brasil dos Santos relata acúmulo de gelo no cinturão tritícola do Estado, mas sem danos aparentes. "Antes de setembro, não devemos ter clareza se houve estragos na cultura e de qual ordem foi o prejuízo", observa.
Argentina - As geadas intensas comprometeram também as lavouras de trigo argentino da temporada 2020/21, informa a Bolsa de Cereais de Buenos Aires. No país, a semeadura do cereal foi concluída na última semana, em 6,5 milhões de hectares. "As geadas registradas causaram danos sobre os quadros mais avançados do Centro e Norte da área agrícola, reduzindo as expectativas de rendimento. Enquanto isso, ao Sul, no momento, há atrasos e leves danos", diz a entidade, em relatório semanal sobre evolução da safra. A falta de chuvas também preocupa os produtores vizinhos. A Argentina é o principal fornecedor de trigo para a indústria moageira brasileira, com comercialização do produto entre 5 milhões de toneladas a 6 milhões de toneladas por ano.
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