Por Clarice Couto e Tânia Rabello
São Paulo, 05/08/2019 - O agronegócio brasileiro deve liderar as campanhas contra o desmatamento ilegal, disse há pouco o presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcello Brito, durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela entidade em São Paulo (SP). “O que mais pega para nós (agronegócio) é o desmatamento. Não conheço um produtor que seja a favor do desmatamento ilegal, então por que nós não somos os líderes das campanhas contra o desmatamento ilegal, por que não somos nós que fazemos as denúncias todos os dias?, questionou Brito.
O presidente das Abag destacou que o desmatamento feito por madeireiros e grileiros “gruda no agronegócio” é que é preciso descolar as ações destes agentes da imagem do agronegócio. “Temos de ser parceiros do governo contra o desmatamento ilegal”, continuou. Lembrou ainda que o setor perde valor em suas exportações por causa do desmatamento e que poderia estar se beneficiando das ações que desempenha em prol da preservação, como receber por serviços ambientais. “Estamos na estaca zero em relação ao pagamento por serviço ambiental”, afirmou.
Brito enfatizou a necessidade de o setor de comunicar melhor tanto com a comunidade internacional como com a nacional. “Nossa comunicação está errada, estamos perdendo de 10 a 0”, afirmou. Brito apresentou dados de uma pesquisa feita entre janeiro e julho deste ano sobre a imagem do agronegócio brasileiro expressa em postagens feitas pelo Twitter em 23 países. Foram 103 mil postagens negativas sobre o setor, lidas por quase 145 milhões de pessoas. Os temas que lideraram as discussões, conforme a pesquisa, foram desmatamento, liberação de defensivos, acordo UE-Mercsoul e ameaças a povos indígenas. Brito chamou a atenção para o fato de quase 60% das críticas vêm das mídia tradicional e especializada, e não de ONGs e mídias alternativas. “Em sete meses, 145 milhões de pessoas leram algo ruim do agro do Brasil no Twitter. A grande parte das detratações do Brasil vêm da Europa, mas quase empatado aparecem os Estados Unidos”, apresentou Brito. “Nessas publicações vemos menos engajamento e mais ciência, mais fontes. E para rebater isso só conseguiremos com mais dados e fontes”, declarou. “Podemos pautar essas mídias de forma positiva”, apresentou.
Brito destacou ainda o crescimento do agronegócio nos últimos 40 anos. “O que o Brasil conseguiu fazer foi uma coisa maravilhosa, mas para continuar crescendo precisamos de uma nova realidade econômica; as reformas são urgentes e devemos pressionar os parlamentares pela reforma da previdência”. O executivo da Abag comentou também que chegou a hora de o setor parar de esperar por subsídios. “Temos de trabalhar sem subsídios. Com a Selic baixa atual não tem mais subsídios; subsídios são nossas ações de eficiência, de ação e de acesso ao mercado”, afirmou.
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