Por Augusto Decker
São Paulo, 01/10/2020 - O desenvolvimento da infraestrutura do Brasil deve acompanhar a preservação do meio ambiente, de acordo com os debatedores do painel "A nova infraestrutura e seus impactos no agronegócio", organizado pelo Insper Agro Global e pelo Centro Brasileiro de Relações Institucionais (Cebri).
Após pergunta sobre o planejamento de obras na Amazônia, em especial a Ferrogrão, considerando a importância de preservação e da sustentabilidade, o professor da Esalq e coordenador do Esalq-Log José Vicente Caixeta afirmou: "Em qualquer projeto de infraestrutura viária é preciso ter projetos de EIA/Rima realizados de forma profissional. Infelizmente, já ouvimos relatos de fraudes, e isso vai trazer um impacto indesejado para o meio ambiente". Embora a Amazônia não seja "intocável", segundo ele, é preciso planejar as obras de maneiras adequadas.
O presidente do conselho da Hidrovias no Brasil, Bruno Serapião, afirmou: "Em qualquer obra de infraestrutura, regras têm que ser iguais, relatórios ambientais têm que ser respeitados, audiências públicas têm que ser feitas, e obras têm que ser licenciadas". No entanto, ele destacou que "existe compatibilidade entre desenvolvimento e preservação". Um exemplo disso, citado por ele, foi a escolha do mercado por não utilizar soja do bioma amazônico, apesar de o uso ser legal desde que respeitando o Código Florestal. "A Amazônia não pode ser intocável, mas temos que usar para o melhor do Brasil, para quem mora lá", disse. "O que não significa botar o Brasil numa caixa. A legislação ambiental tem que ser cumprida, toda a sociedade tem que participar, mas também temos que ter regra que valha para a longevidade."
O CEO da Rumo, José Alberto de Abreu, disse que a maior parte dos atores tem a sustentabilidade como prioridade. "Quem não tem é exceção." Ele lembrou ainda que o Brasil tem um Código Florestal robusto, e que o esforço maior deve ser na aplicação da lei. "Eu vejo o setor privado super engajado nisso", afirmou.
Durante o debate, foram discutidas formas de o Brasil aumentar a multiplicidade de formas de transporte de mercadorias, reduzindo a dependência do meio rodoviário. "Faz diferença países continentais que precisam percorrer distâncias muito grandes para levar produtos até o porto poderem fazer isso de forma competitiva", disse Abreu, da Rumo.
Serapião, da Hidrovias, disse: "Segundo dados do USDA, o Brasil deveria exportar perto de 50 milhões de toneladas a mais nos próximos 10 anos, e mundo devia consumir 100 milhões de toneladas a mais. Nossa participação no mercado de soja e milho só vai crescer se sistema logístico estiver funcionando bem".
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